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Aspectos nutricionais associados ao transtorno do espectro autista: revisão de literatura

 

Isteize Francine Quedas[1]

Mariana de Oliveira Leite[2]

Vitor Hugo Silva Oliveira[3]

Angélica de Moraes Manço Rubiatti[4]

 

Resumo

Introdução: O Transtorno do Espectro Austista (TEA) é uma doença relacionada com o neurodesenvolvimento, caracterizado por prejuízos no desenvolvimento social e comportamental, cujos sinais e sintomas podem ser reconhecidos a partir dos primeiros anos de vida da criança. Seus sintomas são individuais, sendo comuns ações repetitivas, dificuldade em ter contato visual, intolerância de lugares cheios e luminosos, atrasos de fala e seletividade alimentar. Objetivo: Realizar uma revisão bibliográfica sobre os aspectos nutricionais no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Método: Revisão bibliográfica narrativa de artigos científicos de revisão e/ou originais dos últimos dez anos, na base de dados: SciELO, Google Acadêmico, PubMed. Resultados e Discussão: O TEA é uma condição que está relacionada com o neurodesenvolvimento, caracterizado por prejuízos no desenvolvimento social e comportamental. É comum a presença da recusa e seletividade alimentar entre as pessoas com esta patologia, podendo causar carências nutricionais. Além disso, os mesmos apresentam sintomas gastrointestinais, que podem ser tratados com a exclusão do glúten, caseína e lactose. Conclusão: Conclui-se que a nutrição pode melhorar a qualidade de vida no TEA, ao adequar a intervenção nutricional frente à seletividade alimentar e tendência ao consumo de alimentos ultraprocessados​, por serem mais palatáveis. As dietas mais restritas em glúten, caseína e lactose ainda necessitam de mais estudos para serem incorporadas no tratamento nutricional do público estudado.

 

Palavras-chave: autismo; alimentação e nutrição; seletividade alimentar.

 

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma doença relacionada com o neurodesenvolvimento, caracterizado por prejuízos no desenvolvimento social e comportamental, cujos sinais e sintomas podem ser reconhecidos a partir dos primeiros anos de vida da criança. O diagnóstico do TEA é feito a partir dos comportamentos da criança, e quando diagnosticado de uma maneira mais precoce, os resultados do tratamento são mais positivos (Teixeira, 2016).


Seus sintomas são individuais, sendo comuns ações repetitivas, dificuldade em ter contato visual, intolerância de lugares cheios e luminosos, atrasos de fala e seletividade alimentar. Em contrapartida, estas crianças podem ter um desenvolvimento acima da média para música, matemática ou memória (Carreiro, 2018).


Crianças com TEA apresentam seletividade alimentar, dando preferência ao consumo dos alimentos ultraprocessados, e recusando os alimentos in natura. A inquietação e a agitação foram alterações comportamentais mais observadas na hora da refeição (Freitas; Brasileiro, 2020).


A presença da recusa alimentar, que resulta na seletividade alimentar, associa-se a uma gama limitada de alimentos, temperatura, aparência, textura e odor dos alimentos como as principais justificativas de tal recusa.  Neste contexto, é relevante que as orientações nutricionais sejam individualizadas (Moraes et al., 2021).


Segundo Melo, Queiroz e Fernandes (2020), crianças com TEA podem apresentar intolerância ao glúten, caseína e lactose. Uma dieta livre destes nutrientes poderá contribuir na melhora dos sintomas relacionados ao TEA, bem como reduzir o risco de carências nutricionais, agravadas pela seletividade alimentar.


Para que o tratamento do TEA seja mais empático, humanizado, inclusivo, e individualizado, é necessário um trabalho com profissionais multidisciplinares. Dentre estes profissionais, o nutricionista deverá estabelecer um aporte nutricional adequado para garantir um tratamento com eficácia (Magagnin et al., 2019).


Através da alimentação saudável e adequada é possível amenizar os distúrbios comportamentais, podendo influenciar na saúde mental. A intervenção e o acompanhamento nutricional irão contribuir com o bem-estar, e proporcionar qualidade de vida ao paciente (Oliveira et al., 2021).


Desta maneira, é necessário investigar o comportamento alimentar; fazer a avaliação nutricional para se obter o estado nutricional; e fazer as intervenções necessárias para as mudanças alimentares (Milane; Bortolozo; Pilatti, 2022).


De acordo com Mendes (2020), uma alimentação adequada em calorias e nutrientes é essencial para promover a melhora do estado nutricional da criança autista, e caberá aos pais e/ou responsáveis colocarem em prática essas recomendações nutricionais para ter resultados positivos no desenvolvimento físico e cognitivo dela.


Os cuidadores devem buscar estratégias para o desenvolvimento de seus filhos, visando diminuir a recusa e a seletividade alimentar, tornando a hora das refeições em um momento prazeroso para a criança (Faria; Santos; Vieira, 2021).


De forma a agregar conhecimento para os profissionais da área da saúde, com ênfase ao nutricionista, sobre as dificuldades na alimentação da pessoa autista, bem como condutas nutricionais mais apropriadas, contribuindo para a prevenção e/ou recuperação do estado nutricional e qualidade de vida deste indivíduo, o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre os aspectos nutricionais no TEA.

 

Métodos

A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma revisão narrativa e foram analisados artigos científicos de revistas relacionadas ao assunto em questão.


Foram acessados os materiais científicos na base de dados: SciELO, Google Acadêmico, LILACS, PubMed e BIREME dos últimos 10 anos, em português.


As publicações identificadas na busca foram separadas após a exclusão das duplicatas.


Primeiramente, os pesquisadores leram os títulos e resumos de todos os artigos identificados. Em seguida, foi realizada leitura dos artigos na íntegra e selecionados aqueles que mais se relacionavam aos objetivos da pesquisa. Foram excluídas publicações não disponíveis para acesso e estudos em animais.


As palavras-chave utilizadas foram: transtorno do espectro autista, alimentação, seletividade alimentar, recusa alimentar, atuação do nutricionista, e deficiências nutricionais.

A Figura 1 representa o processo de inclusão/exclusão dos artigos para revisão.

 

 

Figura 1 - Processo de inclusão/exclusão dos artigos.

 

Resultados e discussão

A estratégia de busca utilizada retornou um total de 15 publicações. As características gerais dos artigos científicos estão apresentadas no Quadro 1.

 

Quadro 1 – Apresentação das produções científicas encontradas, com informações sobre autores, ano, título, objetivos e tipo de estudo.

Autor(es)/

Ano de publicação

Título do artigo

Objetivo(s)

Tipo de estudo

Dias et al. (2018)

Dieta isenta de glúten e caseína no transtorno do espectro autista.

Realizar uma revisão sistemática sobre a isenção de glúten e/ ou caseína na dieta dos indivíduos com transtorno do espectro autista, analisando os estudos disponíveis na literatura até o presente momento.

Revisão sistemática

Almeida et al. (2018)

Consumo de ultraprocessados e estado nutricional de crianças com transtorno do espectro do autismo.

Analisar o consumo de alimentos ultraprocessados entre crianças com transtorno do espectro autista e sua associação ao estado nutricional.

Artigo original / estudo transversal

Cupertino et al. (2019)

Transtorno do espectro autista:

uma revisão sistemática sobre aspectos

nutricionais e eixo intestino-cérebro.

Revisar sistematicamente os estudos sobre distúrbios alimentares e do trato gastrointestinal apresentado pelo indivíduo portador do transtorno do espectro autista, a fim de compreender como o omportamento alimentar influência na etiopatogênese e manifestações clínicas da doença, com foco no eixo intestino cérebro.

Revisão sistemática

Pereira et al. (2021)

 

 

 

Atuação da equipe multidisciplinar no tratamento do Transtorno do espectro autista e a

importância da intervenção nutricional

 

 

Entender de que forma se dá o transtorno do espectro autista; Compreender o desenvolvimento da seletividade alimentar em crianças dentro do espectro; Identificar as principais formas de intervenção do nutricionista na dieta alimentar de autistas; Entender a importância de uma equipe multidisciplinar na qualidade de vida desse sujeito infante.

Revisão bibliográfica qualitativa

 

Magagnin  et al. (2021)

Aspectos alimentares e nutricionais de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista.

Compreender os hábitos, dificuldades e estratégias alimentares das crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista.

Revisão bibliográfica qualitativa do tipo exploratória e descritiva

Oliveira e Souza (2022)

Terapia com base em integração sensorial em

um caso de transtorno do espectro autista

com seletividade alimentar.

Oportunizar uma reflexão a partir de um

estudo de caso sobre a seletividade alimentar e a disfunção do processamento sensorial

na criança com transtorno do espectro autista, visando analisar a eficácia da abordagem da integração sensorial

no tratamento realizado por uma terapeuta ocupacional.

Estudo de caso

Sabino e Belém (2022)

A relação do transtorno do espectro autista e a disbiose intestinal.

Relacionar a existência do agravamento do transtorno do espectro autista devido à disbiose intestinal, contribuindo para identificação de aspectos relevantes que podem acentuar o quadro clínico, e evidenciar as relações e a existência do

agravamento do transtorno do espectro autista devido à disbiose intestinal.

Revisão

integrativa

 

Milane, Bortolozo e Pilatti (2022)

Comportamento alimentar e estratégias de ensino de educação nutricional para crianças autistas.

 Avaliar o comportamento  alimentar  e estratégias  de educação alimentar e nutricional para  crianças  com transtorno do espectro autista.

Revisão sistemática

Carneiro, Moreira e Lisboa (2022)

Hábitos e comportamentos alimentares de crianças com transtorno do espectro autista.

 Identificar os padrões e comportamentos alimentares das  crianças  com  transtorno do espectro autista, contribuindo para  o  avanço  das  pesquisas  acerca  do  tema e  melhor conduta precoce, colaborando com a inclusão das crianças autistas na sociedade.

Revisão integrativa

Barbosa et al. (2022)

Consequências da seletividade alimentar em crianças com transtorno do espectro autista.

Analisar e evidenciar estudos que mostram  as consequências da seletividade alimentar em crianças autistas.

Revisão bibliográfica

Molina, Santiago e Martins (2022)

Microbiota intestinal e sua relação com o autismo.

Sintetizar os assuntos evidenciados e buscar terapêuticas complementares a fim de minimizar o impacto do espectro na qualidade de vida dos pacientes.

Revisão integrativa

Mariano, Barboza e Teixeira (2023)

Impactos da pandemia de covid-19 nos hábitos alimentares e saúde mental de crianças com Transtorno do Espectro Autista.

 Avaliar os impactos do isolamento social imposto pela pandemia de covid-19 em crianças com autismo atendidas em um centro de atenção psicossocial Infantil  do Distrito Federal.

Artigo original / estudo transversal

 

Lima et al. (2023)

Seletividade alimentar em crianças com transtorno do espectro autista.

Esclarecer a importância da terapia alimentar e nutricional  na  evolução  do  estudo  de  caso  do  paciente  diagnosticado com transtorno alimentar restritivo evitativo (TARE).

Relato de caso

Holanda et al. (2023)

Consumo alimentar em crianças com transtorno do espectro autista.

Observar o perfil alimentar de crianças autistas, bem como, suas preferências alimentares a fim de observar o padrão alimentar dessa.

Revisão descritiva

Santos et al. (2023)

Intervenções nutricionais para terapia do transtorno do espectro autista.

Mapear evidências científicas sobre as intervenções nutricionais  para  pessoas  com transtorno do espectro autista.

Revisão de escopo

Fonte: Elaborados pelos autores (2023).

 

As crianças autistas têm dificuldade em interagir e entender os outros, elas acabam se afastando. A maioria é sensível a ruídos, cheiros e estímulos visuais que podem interferir na qualidade do sono e da alimentação (Milane; Bortolozo; Pilatti, 2022).


A intervenção nutricional no TEA é essencial para garantir um aporte nutricional adequado, visando reduzir problemas gastrointestinais e deficiências nutricionais que podem levar a alterações comportamentais e neurológicas. Durante a consulta com o nutricionista deve ser avaliada a fisiopatologia, ingestão alimentar, alergias e intolerâncias alimentares e comportamentos alimentares para tornar a conduta nutricional mais direcionada à necessidade de cada paciente. Os pesquisadores, após revisão bibliográfica, verificaram que as dietas sem glúten e sem caseína, os suplementos alimentares como ácido fólico, N-acetilcisteína, probióticos, metil-B12, trimetilglicerina, vitaminas do complexo B, magnésio, vitamina D, ômega-3, melatonina e proteína isolada do soro de leite rico em cisteína, além dos nutracêuticos dietéticos como curcumina, resveratrol, naringerina, sulforafano e ácido gama-aminobutírico foram as intervenções nutricionais mais relatadas para terapia nutricional do TEA (Santos et al., 2023).


Para Cupertino et al. (2019), o eixo intestino-cérebro é um importante fator associado à etiologia e manifestações clínicas do TEA. No entanto, não está definido se as modificações intestinais representam a causa, ou o resultado das alterações no sistema nervoso. Embora não haja evidências suficientes para apoiar a ideia de que uma alimentação restrita em glúten e lactose seja uma estratégia de tratamento nutricional estabelecida, esta pode beneficiar alguns pacientes que podem ter a melhora de desconforto e inflamação intestinal, aumento da permeabilidade intestinal, desequilíbrio da microbiota intestinal, diarreia crônica, cólicas abdominais, e alteração da sensibilidade oral.


O desequilíbrio da microbiota intestinal tem efeitos negativos no TEA, que pode estar ligado a uma alimentação inadequada, ocasionando má absorção de nutrientes, atraso no neurodesenvolvimento, e dificuldade na digestão de substratos, resultando em sintomas gastrointestinais e agravamento dos comportamentos autísticos. A disbiose está relacionada com uma diminuição das bactérias do gênero Bifidobacterium e um crescimento anormal de microrganismos patogênicos como Clostridium. Por meio de intervenções como a retirada do glúten e da caseína e a adição de probióticos e prebióticos foram observadas melhoras nos sinais e sintomas comportamentais (comprometimento nas habilidades sociais, cognição e comunicação), além do equilíbrio da microbiota intestinal e do seu reflexo sobre o eixo intestino-cérebro nesses pacientes (Molina; Santiago; Martins, 2022).


A exclusão do glúten e da caseína como intervenção nutricional vem sendo cada vez mais utilizada para melhorar as disfunções gastrointestinais causadas pela ingestão dessas proteínas em pessoas autistas. Sua restrição gera resultados positivos nos aspectos cognitivos e gastrointestinais. Entretanto, há necessidade de mais estudos científicos sobre essa estratégia para permitir maior segurança aos nutricionistas, ao realizarem a prescrição dietética (Dias et al., 2018).


Segundo Sabino e Belém (2022), evidências podem mostrar a piora do TEA pela disbiose intestinal exacerbada, principalmente, por fatores gastrointestinais idiopáticos. Estudos nesta área apontam que as deficiências nutricionais e a seletividade alimentar levam a um desequilíbrio da microbiota intestinal. Deficiência de vitaminas, intolerância a determinados alimentos, uso de antibióticos, desenvolvimento da Síndrome do Intestino Irritável e da obesidade por compulsão alimentar, correlacionam-se com manifestações clínicas, confirmando os sintomas gastrointestinais recorrentes.


A seletividade e a recusa alimentar, muito frequente entre pessoas autistas, podem prejudicar seu desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, o acompanhamento com o nutricionista poderá suprir as necessidades nutricionais e reduzir os comportamentos alimentares seletivos (Melo; Queiroz; Fernandes, 2020).


A criança tem que ressignificar o momento da alimentação para se sentir segura. É clara a relação entre as alterações sensoriais e a seletividade alimentar, destacando a importância da compreensão do funcionamento dos sistemas sensoriais e a sua influência no processo alimentar. Para a aceitação de novos alimentos pelas crianças autistas, várias etapas devem ser realizadas como o contato com os alimentos através do olhar, cheirar, tocar, provar e comer (Oliveira; Souza, 2022).


Lima et al. (2023) ressaltam a necessidade de maior atenção às alterações no comportamento alimentar da criança autista, incluindo a triagem adequada para diagnosticar; a avaliação do uso de suplementos nutricionais; e o tratamento nutricional mais adequado para garantia do desenvolvimento positivo do paciente. Sugerem ainda que os profissionais de saúde, especialmente, os nutricionistas, sejam mais capacitados para tratar os distúrbios alimentares. Além disso, os pais também precisarão dar continuidade aos processos terapêuticos em casa para melhor evolução do tratamento. Para os autores, o tratamento nutricional deve priorizar a alimentação responsiva, respeitando os limites da criança e ajudando os pais e cuidadores a compreenderem características orgânicas como fome e saciedade. O comer deve ser algo prazeroso e para a criança experimentar o alimento, ela deve seguir uma escala que começa com o reconhecimento do alimento, tolerância em sua manipulação, cheirar, aproximação da boca e sua ingestão.


Um estudo para compreender os hábitos, dificuldades e estratégias alimentares das crianças e adolescentes foi desenvolvido com 14 pais de crianças e adolescentes com TEA, que estudavam em uma escola especializada para este grupo e observou-se que na categoria de hábitos alimentares de crianças e adolescentes, os pais entrevistados relataram que seus filhos tinham um fácil manejo durante as refeições do dia, e comportamentos alimentares adaptativos e saudáveis. Foi mencionado ainda dificuldade para lidar com a rejeição dos filhos aos alimentos oferecidos, assim como durante a introdução de alimentos novos. O sentimento de impotência foi citado entre aqueles pais de crianças e adolescentes, que apresentavam compulsão alimentar. Diante dos dados obtidos com a pesquisa, as crianças e adolescentes avaliadas tinham uma alimentação diversificada, mas com padrões alimentares próprios. Para os pesquisadores, a família tem um papel fundamental no processo de mudanças positivas na alimentação, levando em consideração as peculiaridades que permeiam o manejo com alimentação de cada indivíduo com TEA (Magagnin et al., 2021).


O objetivo do estudo realizado por Almeida et al. (2018) foi analisar o consumo de alimentos ultraprocessados ​​e sua relação com o estado nutricional em crianças autistas, vinculadas a uma Clínica Escola de uma universidade particular da cidade de São Luís, Maranhão. A amostra de conveniência foi de 29 crianças, entre 3 e 12 anos, diagnosticadas com TEA por neuropediatra. Os dados foram coletados a partir de entrevistas com os pais, ​​por meio de um questionário semiestruturado, que incluía questões sobre escolhas alimentares e dificuldades da criança em aceitar novos alimentos. As crianças avaliadas tinham em média 8 anos e eram do sexo masculino. A seletividade alimentar foi observada em todos. A maior parte das calorias ingeridas pelos avaliados foi proveniente de alimentos in natura. Em contrapartida, o maior consumo de alimentos ultraprocessados esteve associado ao excesso de peso nas crianças autistas.


O padrão estereotipado para interesses restritos é observado em pessoas com TEA, levando a uma seletividade alimentar precoce. A capacidade sensorial dessa criança também é alterada, o que dificulta a introdução de novas texturas, novos sabores e novas cores no prato. A seletividade alimentar pode aumentar os riscos de desnutrição, anemias e outras carências nutricionais, e também favorecer o sobrepeso e obesidade. Além disso, a ingestão adequada de nutrientes resultará em melhor resposta cognitiva. Por essa razão, deve ser avaliado todo o consumo alimentar da criança a fim de favorecer a oferta de alimentos mais saudáveis. Os alimentos ultraprocessados costumam ser mais bem aceitos por crianças autistas, por apresentarem características mais palatáveis (Holanda et al., 2023).


O isolamento social provocado pela pandemia da covid-19 afetou a rotina de crianças autistas, com consequente alteração no comportamento alimentar e no estado nutricional dessas crianças. A mudança dos hábitos alimentares levou a alterações no apetite e peso, aumentou o consumo de alimentos ultraprocessados, uso de telas durante as refeições, mais seletividade alimentar, e baixo consumo de frutas e hortaliças. Estes impactos na alimentação demonstram que a pandemia agravou os aspectos alimentares e nutricionais também da criança autista (Mariano; Barbosa; Teixeira, 2023).


O adequado papel do nutricionista, direcionado para crianças autistas com seletividade alimentar deve ser realizado por meio de uma intervenção específica na percepção dos problemas sensório-motores e/ou gastrointestinais, propondo possibilidades de estímulos, que podem ocorrem através do envolvimento com brincadeiras e o uso do lúdico em geral, que se configura como ferramenta importante de envolvimento desses indivíduos nas atividades de intervenção desenvolvidas. Desta forma, durante o acompanhamento terapêutico nutricional de indivíduos com TEA, é necessário enxergá-los em sua individualidade, de forma articulada e apoiada de forma conjunta com a equipe multiprofissional (Pereira et al., 2021).


Crianças com TEA têm dificuldades durante o crescimento e desenvolvimento. A seletividade alimentar que prejudica a adequada ingestão de alimentos deve ser exaustivamente investigada, uma vez que influencia negativamente na rotina e preferências alimentares da criança com o apoio de uma equipe multidisciplinar e da família, esses obstáculos podem ser superados. Deste modo, o papel da nutrição vai além de garantir que o paciente esteja bem alimentado e nutrido (Barbosa et al., 2022).

 

Conclusão

Esta revisão bibliográfica narrativa permitiu compreender, que a nutrição pode melhorar a qualidade de vida no TEA, ao adequar a intervenção nutricional, contribuindo para o desenvolvimento de comportamentos e atitudes alimentares mais saudáveis.


Em crianças e adolescentes autistas observa-se frequente seletividade alimentar pela maior sensibilidade à temperatura, aparência, textura e cheiro dos alimentos e uma tendência ao consumo de alimentos ultraprocessados​, por serem mais palatáveis.


Com uma abordagem multidisciplinar eficaz, o papel do nutricionista irá garantir uma boa alimentação e comportamentos alimentares mais apropriados, visando prevenir alterações no estado nutricional ou restaurá-lo. 


As restrições alimentares mencionadas no trabalho como de glúten, caseína e lactose ainda necessitam de mais estudos para serem incorporadas no tratamento nutricional do público estudado.


Portanto, o profissional de Nutrição deverá facilitar as estratégias de modificação alimentar apropriadas para cada indivíduo autista, bem como para seus cuidadores, tornando o momento das refeições mais prazeroso.

 

Referências

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Teixeira, G. Manual do autismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2016. 96 p.

 


[1] Graduanda do Curso de Nutrição do UNICEP São Carlos. E-mail: isteizefrancine1509@gmail.com

[2] Graduanda do Curso de Nutrição do UNICEP São Carlos. E-mail:marianaoliveiraleite4360@gmail.com

[3] Graduando do Curso de Nutrição do UNICEP São Carlos. E-mail: vi.borges11@gmail.com 

[4] Doutora em Ciências Nutricionais. Docente do Curso de Nutrição do UNICEP São Carlos. E-mail: angelicamanso@yahoo.com.br

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