O século 21 tem sido uma grande referência para o desenvolvimento de novas pautas envolvendo os animais, como a questão do bem-estar, sobretudo em um momento em que grandes atrocidades ainda ocorrem na sociedade, reafirmando a necessidade de discutir sobre este tema.
A temática do bem-estar está presente na sociedade humana há muitos anos, principalmente pelo fato do ser humano apresentar uma conexão direta com estes seres vivos, o que implica na necessidade de evitar qualquer tipo de sofrimento.
Historicamente, as preocupações com pesquisas a respeito do bem-estar animal se debruçam sobre a necessidade de entender e promover a proteção destes seres vivos, ocorrendo a partir da década de 70, dentro da área da pesquisa em etologia animal.
Paralelamente, ocorre um avanço a respeito do conhecimento envolvendo a consciência e os sentimentos dos animais, decorrentes dos conceitos de evolução natural, similaridade genética e fisiológica no campo da ética animal, que aumentam as dimensões do bem-estar.
Em função disso, o presente artigo irá abordar sobre todos fatores e variáveis que fazem parte da complexa temática que diz respeito ao bem-estar animal, principalmente por não somente dizer respeito ao bem-estar físico, mas também comportamental e mental.
Introdução ao conceito de bem-estar animal
O conceito de bem-estar animal é amplamente estudado por especialistas contemporâneos, sobretudo por conta da necessidade de compreender as demandas dos mesmos. Para os autores Broom e Johnson (2000), o bem-estar animal deverá ser uma tentativa dos próprios animais em se adaptar ao meio em que estão inseridos, considerando, portanto, diferentes estados psicológicos e físicos.
Para outros autores, como Mellor et al. (2009), o bem-estar animal já revela-se como um estado próprio de determinado momento em que o animal se encontra, a cargo de experiências emocionais e afetivas, associadas a fatores internos e externos.
Portanto, ao considerar estas diferentes perspectivas, trata-se de um conceito bastante subjetivo e amplo. No entanto, deve-se considerar fatores que envolvem o bem-estar físico, mental e natural dos animais, possibilitando o entendimento da importância sobre o nível de qualidade de vida e felicidade em que os mesmos se encontram.
A partir daí, observa-se que a ciência do bem-estar animal preconiza e preza por melhor identificar e reconhecer as necessidades básicas dos animais, além de se tratar de uma área interdisciplinar. É preciso que melhor compreenda as demandas dos animais, para que possa-se realizar uma maior mensuração e aplicabilidade no campo prático.
Por outro lado, o estudo de (Keeling et al., 2011) define também a importância de avaliar a saúde física, mental e comportamental dos animais, assim como sua capacidade de se adaptar ao meio ambiente, o que converge com a própria teoria de Darwin, no sentido de que os seres vivos mais adaptados são os que sobrevivem às diferentes intempéries.
A temática do bem-estar animal, portanto, alinha-se à necessidade de compreender a forma pela qual os animais são tratados em experimentos de laboratório. Com isso, surgem questões éticas importantes que deverão ser melhor trabalhadas e compreendidas, sobretudo quando se fala sobre a medicina veterinária.
Princípios éticos na medicina veterinária
A medicina veterinária representa uma área que se debruça sobre procedimentos éticos e conscientes envolvendo o trabalho com estes animais em laboratório. Para isso, o próprio Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) implementou uma campanha nacional para promover a conscientização das pessoas sobre a importância da temática do bem-estar animal.
Não importa qual seja o procedimento laboratorial, os princípios éticos devem ser preservados considerando os animais. O bem-estar, portanto, passa a ser um dos principais enfoques de todos os profissionais que atuarão em laboratório, como médicos veterinários e zootecnistas.
Ainda dentro desta temática, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determina uma série de procedimentos e cursos que devem ser implementados em relação ao bem-estar animal, processos que devem estar presentes nos cursos de medicina veterinária pelo mundo.
Alguns autores, como Beaver (2005), Levine (2005) e Lord e Walker (2009), alegam que o entendimento concreto e preciso sobre os diferentes procedimentos éticos envolvendo os animais de laboratório ainda está aquém do esperado, reafirmando a necessidade de capacitar melhor os profissionais durante os procedimentos laboratoriais.
Reforça-se, portanto, o papel das universidades na busca de uma formação mais consolidada aos futuros médicos veterinários, tratando-se de uma instituição que apresenta tanto funções de formação intelectual, quanto moral e sociais.
Melhores práticas para o bem-estar físico dos animais
As boas práticas envolvendo o bem-estar físico dos animais são mandatórias para o cuidado assertivo durante procedimentos laboratoriais diversos. Estes procedimentos podem ser comparados ao próprio ser humano, em termos de identificação de variáveis e parâmetros que resultarão em melhores avaliações para o reconhecimento do estado de bem-estar dos animais.
De certa forma, a saúde passa a ser o principal elemento a ser considerado neste processo, a fim de que as melhores práticas possíveis sejam evocadas. Nota-se que a saúde é um conceito amplo, mas que envolve não somente aspectos físicos e fisiológicos, como também diz respeito a aspectos associados ao bem-estar.
É preciso que os profissionais de saúde apresentem um olhar preciso sobre o comportamento dos animais em ambiente laboratorial, assim como conheçam, de antemão, a forma pela qual os animais se expressam em condições normais, no sentido de realizar uma comparação eficiente.
O estresse, portanto, é um fator capaz de modificar substancialmente o comportamento dos animais, no sentido de que o reconhecimento dos fatores que podem promover sua aceleração devem ser evitados ou reduzidos. Em outras palavras, como é identificado na própria teoria de Darwin, o ambiente é capaz de modular em grande parte o comportamento dos seres vivos, o que se alinha com a forma pela qual os animais agem em ambiente controlado, como os laboratórios.
O estresse também diz respeito às condições em que os animais se encontram dentro destes ambientes. É preciso que haja um cuidado com as instalações, acabamentos e construções, a fim de que as condições internas e externas sejam preservadas.
Importância do bem-estar mental dos animais
A importância do bem-estar mental dos animais se dá mediante a possibilidade de gerar qualidade e saúde, na medida do possível, a estes seres vivos, sobretudo aqueles que estão dentro do ambiente de laboratório.
De acordo com as leis vigentes, o comportamento natural dos animais deve se expressar em cinco liberdades: liberdade de sede, fome/má nutrição, dor e doença, desconforto, comportamento natural e estresse.
Em se tratando ainda de animais de laboratório, é preciso que se reconheça a importância de não causar qualquer tipo de dor desnecessária (FEIJÓ, 2005). Considerando que os animais serão explorados por conta de procedimentos experimentais, é preciso que haja o mínimo de cuidados éticos, não os expondo a riscos e procedimentos desnecessários.
Todas as condições apresentadas associadas ao bem-estar mental dos animais reafirmam a importância de promover programas de prevenção de doenças e demais desconfortos, assim como evitam qualquer tipo de sofrimento mental, seja através de um ambiente enriquecido e bem preparado, ou por meio da presença de animais de mesma espécie, gerando maior acolhimento.
Note que outras variáveis são consideradas para o bem-estar animal, incluindo fatores fisiológicos e físicos, como a avaliação de condições corporais, bioquímicas e imunológicas, as quais farão parte do rol de procedimentos e exames pelos quais os animais deverão ser submetidos, para que haja uma avaliação mais eficiente.
Inovações recentes para o bem-estar animal na medicina veterinária
O bem-estar animal na medicina veterinária, como apresentado nos tópicos acima, é um pré-requisito para a determinação dos demais procedimentos veterinários. Hurnik & Lehman (1985) apontam que existe uma hierarquia associada às necessidades do bem-estar animal, as quais compreendem a manutenção da vida, saúde e conforto.
Já outros atores, como Mellor et al. (2009), apontam que o bem-estar animal será definido em cinco grandes domínios, envolvendo: nutrição, ambiente, saúde, comportamento e estado mental.
Mellor et al. (2009), caracterizaram o bem-estar animal em cinco grandes áreas,
denominados cinco domínios, para avaliar o impacto dos procedimentos sobre os
animais e o nível de comprometimento do bem-estar. Note que ambos estudos identificam a importância de compreender as demandas dos animais para prezar pelo bem-estar geral.
As principais inovações na área a respeito do bem-estar dos animais dizem respeito ao Welfare Quality Project, criado pela União Europeia em 2004, através da identificação de quatro princípios que buscam metrificar a avaliação do bem-estar de animais de produção, além de revelar doze diferentes critérios. Todas estas inovações se revelam como esforços para se manter o bem-estar animal.
Desafios na implementação de protocolos de bem-estar animal
No entanto, considerando as diferentes realidades, assim como investimentos em pesquisa aprofundada na temática da medicina veterinária, ainda existem grandes desafios e obstáculos para a real implementação de protocolos de bem-estar animal.
Ao considerar os principais currículos que tratam da questão do bem-estar animal, observa-se que as disciplinas acadêmicas ainda estão defasadas a respeito do conhecimento aprofundado no tema.
O bem-estar animal é um assunto bastante complexo, que exige mais cadeiras nas universidades e novos tipos de aprofundamento, como a questão subjetiva do diagnóstico e controle da dor, aspectos que ainda são pouco desenvolvidos na metodologia curricular da maior parte das universidades no mundo.
Estudos de caso: Bem-estar animal em diferentes contextos (clínicas veterinárias, fazendas, zoológicos)
O bem-estar animal deve ser prezado em diferentes contextos, como clínicas veterinárias, fazendas, zoológicos, já que os animais apresentam direitos que devem ser preservados, assim como considerados por todos aqueles que estão em contato com estes seres vivos.
O bem-estar animal exige, portanto, as mesmas concepções e definições éticas para os diferentes contextos apresentados, no sentido de que as cinco liberdades citadas anteriormente devem ser prezadas, assim como o ambiente deve favorecer a redução de qualquer tipo de estresse a estes eventos.
Futuro do bem-estar animal na medicina veterinária
O bem-estar animal na medicina veterinária é bastante esperado, já que preza-se, principalmente, que os profissionais veterinários tenham discernimento para promover um ambiente sadio, evitando fatores de estresse.
Uma grande dificuldade, na própria literatura científica a respeito do tema, diz respeito ao conceito de bem-estar animal. Enquanto uma escola reafirma o funcionamento biológico, outra aponta para a escola dos sentimentos, mas que podem convergir em alguns pontos importantes, como a saúde e a qualidade de vida.
No entanto, ao verificar a formação dos médicos veterinários até algumas décadas, observou-se que seu conhecimento se dava somente na esfera física. Com o desenvolvimento de novas formas de conhecimento e inovações, espera-se que o futuro traga profissionais mais preparados, em função de cursos ainda mais capacitantes, considerando todas as dimensões dos animais.
Além disso, espera-se que as pesquisas avancem no sentido de embasar o trabalho da prática clínica, aumentando a base de conhecimento, no sentido de gerar mais expertise e orientação para os profissionais veterinários e correlatos.
Conclusão: A importância de priorizar o bem-estar animal
No artigo apresentado, verificou-se a importância da priorização do bem-estar animal em qualquer tipo de condição, já que não somente trata-se de uma questão de humanidade, mas também diz respeito a preceitos éticos e morais.
O bem-estar animal é resultante de diferentes dimensões, que envolvem não somente a parte física, mas também mental. No entanto, com o advento de novas noções e conhecimentos dentro da formação profissional dos médicos veterinários, este cenário irá ser modificado positivamente.
Paralelamente, é esperado que ações em bem-estar animal sejam ainda mais priorizadas, considerando a conscientização por parte da população, assim como o entendimento de que o bem-estar animal envolve três dimensões, basicamente: comportamental, psicológica e física.
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Referências Bibliográficas: https://www.ufrgs.br/actavet/35-suple-2/02-ANCLIVEPA.pdf
Molento et All, 2017.