Introdução
A Medicina Veterinária é tradicionalmente associada à saúde e bem-estar dos animais, sejam eles de estimação, produção, selvagens ou de laboratório. No entanto, sua importância vai muito além da mera prática clínica.
Ao longo dos anos, a medicina veterinária expandiu suas fronteiras e passou a desempenhar um papel crucial na Saúde Pública, influenciando diretamente na saúde e qualidade de vida das populações humanas.
Primeiramente, é fundamental compreender que a saúde humana está diretamente ligada à saúde animal e ao ambiente. Essa tríade é frequentemente referida como "Uma Saúde" (One Health), um conceito que reconhece que a saúde dos seres humanos, animais e do ambiente estão interconectados.
O princípio de "Uma Saúde" destaca a necessidade de abordagens colaborativas para enfrentar desafios compartilhados e proteger a saúde global.
Um dos exemplos mais evidentes dessa interconexão é a emergência de doenças zoonóticas, ou seja, doenças transmitidas entre animais e seres humanos. Estima-se que mais de 60% das doenças infecciosas em humanos são de origem animal.
Epidemias recentes, como a da gripe aviária e a da febre do vírus Ebola, são lembretes palpáveis de como as doenças podem ser transmitidas entre espécies e causar impactos devastadores em escala global.
Nesse contexto, os veterinários desempenham um papel insubstituível na detecção precoce, controle e prevenção dessas doenças, trabalhando em colaboração com profissionais de saúde humana e ambiental.
Além das zoonoses, a medicina veterinária também é fundamental na garantia da segurança alimentar. Ao monitorar e controlar doenças em animais de produção, os veterinários garantem que os alimentos que chegam à mesa dos consumidores sejam seguros e de qualidade.
O controle de resíduos de medicamentos e contaminantes em produtos de origem animal, como carne, leite e ovos, é essencial para proteger a saúde pública de riscos potenciais. Essa vigilância contínua evita surtos de doenças transmitidas por alimentos, que podem ter consequências graves para a saúde humana.
A sustentabilidade ambiental é outra área em que a medicina veterinária e a saúde pública se cruzam. O manejo adequado dos resíduos animais, o uso responsável de recursos naturais na produção animal e a conservação da biodiversidade são aspectos-chave para a preservação de ecossistemas saudáveis, que, por sua vez, sustentam a saúde humana.
Veterinários, ao trabalhar em prol da saúde animal e do bem-estar, indiretamente contribuem para um meio ambiente equilibrado e saudável.
A saúde pública também se beneficia do vasto conhecimento dos veterinários em epidemiologia e pesquisa.
Esses profissionais frequentemente atuam em estudos que buscam entender a dinâmica de transmissão de doenças, a eficácia de novas vacinas e a resistência a antimicrobianos, um problema crescente que afeta tanto a saúde humana quanto a animal.
Em conclusão, a medicina veterinária é uma peça chave no complexo quebra-cabeça da saúde pública. O mundo moderno, com suas mudanças climáticas, crescente mobilidade global e intensificação da produção agrícola, apresenta desafios únicos que requerem soluções integradas e colaborativas.
Reconhecer e valorizar o papel dos veterinários nesse contexto é vital para garantir uma saúde robusta e resiliente para todos, humanos e animais. Afinal, a saúde de um é a saúde de todos.
Pets, Tecnologias e Humanos
O aumento do número de animais domésticos tem sido um grande propulsor para o desenvolvimento de novos aparelhos tecnológicos que possam trazer mais conforto tanto aos donos, quanto aos bichinhos.
No censo mais recente realizado no Brasil, estima-se que o número de pets hoje chega na faixa dos 139 milhões. Surpreendente né?
Outro dado recente sugere que os animais estão ainda mais presentes no cotidiano da vida do brasileiro. Nesta recente pesquisa, nota-se que o número de pets é cada vez superior ao número de crianças, sendo uma opção de muitos casais e pessoas solteiras, em função dos custos elevados com crianças.
Mas, o que isto tudo tem em comum?
Bom, é notório que o número de pets aumentou em relação a filhos humanos. Seja por motivos psicológicos, antropológicos ou estilo de vida, os animais estão mais presentes na vida das pessoas, o que também representa maior demanda para a área da Medicina Veterinária.
Paralelamente, as tecnologias tornaram-se elementos vitais para o cuidado com os pets. Hoje, busca-se o desenvolvimento de procedimentos menos invasivos que possam contribuir com a maior qualidade de vida dos animais.
No entanto, não podemos deixar de ressaltar que os procedimentos para realizar o cuidado dos animais é bastante custoso. É evidente que a raça do pet é proporcional ao custo que demandará de seu dono.
Portanto, pense muito antes de ter um pet! Como dizem por aí, um pet é um filho. E o ditado não está incorreto, já que os bichinhos, hoje, demandam o mesmo nível de atenção, carinho e cuidado que filhos humanos.
Todos os pontos apresentados levam à necessidade de levarmos em consideração a importância do bem-estar animal, sobretudo em questões éticas.
Bem-Estar Animal e Ética na Medicina Veterinária
Um dos termos mais importantes em relação ao bem-estar animal ético dentro da vasta área da Medicina Veterinária, é o “One Health”.
Este termo, lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), representa a importância de não dissociarmos as saúde humana, ambiental e animal.
Em outras palavras, todos os ambientes estão interconectados. Desde o momento em que iniciamos nossas atividades como seres humanos e curiosos na busca de alimentos durante o período Paleolítico, sempre interagimos com o meio ambiente.
Mesmo sem sabermos o conceito de “ética” naquele momento, aprendemos a lidar de forma saudável com os animais à nossa volta, sobretudo para desenvolvermos um equilíbrio com o ambiente.
Hoje, com o advento de novas tecnologias e conhecimentos, o conceito de “ética” é estabelecido. Todavia, passa a reforçar e ressaltar a importância de mantermos os cuidados com nossos parceiros ambientais, principalmente porque adquirimos a capacidade de inseri-los em nossos ambientes domésticos.
O maior contato com animais dentro de casa e, também, silvestres, exige um novo posicionamento por parte da Medicina Veterinária. Esta área não somente é responsável por cuidar de doenças e tratamentos de animais, mas também se preocupa com o bem-estar, em geral.
Ao considerarmos o cenário recente da pandemia de covid-19, verificamos que os animais também foram extremamente afetados. A Medicina Veterinária, mais uma vez, passa a desenvolver conhecimento sobre a melhor forma de lidarmos com nossos bichinhos, a fim de garantir ainda mais segurança.
Para isso, devemos compreender que a saúde dos animais está intrinsecamente ligada à nossa saúde. Como estes animais convivem no mesmo ambiente que o nosso, é importante mantermos uma maior vigilância, principalmente por meio de check-ups.
A importância da Medicina Veterinária na Conservação e Preservação de Animais
Na vida selvagem, os médicos veterinários de conservação desempenham funções cruciais. Eles operam no cruzamento da ciência e da preservação, onde a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção está em jogo.
Esses profissionais exercem uma variedade de atividades, que vão desde o tratamento de animais selvagens feridos ou doentes até a implementação de estratégias de reprodução assistida.
A medicina veterinária de conservação não se limita apenas ao tratamento direto. Trata-se de entender e contribuir para a biodiversidade.
Ao estudar e tratar diferentes espécies, como pandas-gigantes e linces-ibéricos, esses médicos podem ajudar a decifrar os desafios da sobrevivência desses animais em ambientes em transformação.
Os programas de conservação envolvem uma combinação de práticas médicas e estratégias de conservação. Por exemplo, os pandas-gigantes, que estavam em perigo devido à degradação do habitat e baixas taxas de reprodução, beneficiaram-se de técnicas avançadas de reprodução assistida desenvolvidas por veterinários.
Estas técnicas melhoraram as taxas de sobrevivência dos filhotes e aumentaram a diversidade genética da espécie.
Similarmente, o lince-ibérico, com sua população em declínio, se beneficiou dos esforços dos médicos veterinários. Por meio de programas de reprodução em cativeiro e atendimento veterinário especializado, foi possível aumentar a população desses felinos e manter sua diversidade genética.
A Medicina Veterinária de Conservação é, assim, fundamental para a preservação da biodiversidade. Cada passo positivo na conservação é um avanço contra as ameaças que comprometem as espécies do nosso planeta. Esses veterinários são essenciais na manutenção e proteção da biodiversidade mundial.
Conclusão
Ao refletir sobre o papel da Medicina Veterinária no contexto da Saúde Pública, é evidente que seu impacto transcende as fronteiras tradicionais do cuidado animal, desempenhando funções vitais para a sustentação da saúde humana e ambiental.
O conceito de "Uma Saúde" (One Health), que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental, é central para compreender esta relação e seus desdobramentos.
Primeiramente, ao abordar as doenças zoonóticas, é notável que mais de 60% das doenças infecciosas humanas são de origem animal. Epidemias recentes, a exemplo da gripe aviária e da febre do vírus Ebola (e também da covid-19), ilustram o quão volátil essa relação pode ser.
A transmissão de doenças entre espécies e suas consequências globais revisitam a necessidade imperativa da presença veterinária.
Os veterinários são protagonistas na identificação, controle e prevenção dessas enfermidades, tornando-se verdadeiros guardiões da saúde pública global.
Seu trabalho, em sinergia com outros profissionais de saúde, garante uma abordagem holística, minimizando riscos e ampliando a capacidade de resposta a surtos.
A questão da segurança alimentar também se destaca, visto que a sociedade contemporânea tem se mostrado cada vez mais preocupada com a qualidade e procedência dos alimentos consumidos.
A intervenção dos veterinários é crucial para garantir que os alimentos provenientes de animais estejam livres de agentes patogênicos e resíduos tóxicos.
Seu monitoramento contínuo na produção animal assegura que produtos como carne, leite e ovos cheguem à mesa dos consumidores de maneira segura.
Surtos de doenças transmitidas por alimentos têm potencial devastador, e a prevenção através da vigilância veterinária é uma barreira essencial contra tais ameaças.
Além disso, o enfoque na sustentabilidade ambiental é um ponto-chave na interseção entre medicina veterinária e saúde pública.
O manejo responsável e ético dos recursos naturais, a gestão adequada dos resíduos animais e a conservação da biodiversidade são desafios que a sociedade moderna enfrenta.
Veterinários, ao priorizarem a saúde e bem-estar animal, são agentes ativos na promoção de práticas sustentáveis, contribuindo significativamente para a manutenção de ecossistemas saudáveis.
Em um mundo em constante transformação e com desafios climáticos emergentes, a visão e atuação veterinária são essenciais para garantir um equilíbrio entre saúde e meio ambiente.
Por fim, mas não menos importante, destaca-se a contribuição da Medicina Veterinária no campo da pesquisa e epidemiologia. A resistência a antimicrobianos, por exemplo, é uma ameaça crescente e compartilhada entre seres humanos e animais.
A pesquisa veterinária tem sido fundamental para entender, mitigar e propor soluções para essa e outras problemáticas.
Portanto, ao revisitar os principais pontos discutidos, fica evidente que a Medicina Veterinária não é apenas uma profissão dedicada ao cuidado animal, mas sim uma disciplina intrinsecamente ligada à promoção da saúde global.
Seja no combate a doenças zoonóticas, na garantia da segurança alimentar, na promoção da sustentabilidade ou através da pesquisa, os veterinários desempenham um papel insubstituível.
Reconhecer, valorizar e integrar suas competências e conhecimentos nas estratégias de saúde pública é essencial para construir um futuro mais saudável e equilibrado para todos. A saúde de um, indiscutivelmente, reflete na saúde de todos.
Referências Bibliográficas: Censo Pet: 139,3 milhões de animais de estimação no Brasil